Munidos com bandeiras, tambores e faixas, centenas de pessoas percorreram as ruas da capital baiana, da Praça do Campo Grande até a Praça Castro Alves, contra as invasões aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, protagonizadas por integrantes da extrema-direita.
O ato que marca a mobilização de parte da população contra a tentativa de desmonte da democracia ocorreu hoje, um dia após a invasão que resultou na destruição de móveis, vidraças, equipamentos e obras de arte do Palácio do Planalto (poder Executivo), Congresso Nacional (poder Legislativo) e Supremo Tribunal Federal (poder Judiciário), além da depredação de obras e objetos históricos armazenadas neles.
"Achamos que não precisaríamos vir para a rua tão cedo, mas se é para proteger a democracia, a gente tira força de onde for necessário e vem", disse a artesã, Ekatherini Kostopoulof, 43 anos, acompanhada do filho José Kostopoulof, de 4.
Além de participar do ato, José quer enviar carta à Brasília (Foto: Ana Lucia Albuquerque/ CORREIO) |
O pequeno soteropolitano acompanha a mãe em atos pela democracia desde os 6 meses. O primeiro foi o movimento do "Ele não". "Ele viu minha tristeza e, hoje, antes de sair de casa, me disse que mandaria uma carta para Brasília avisando que vamos lutar", contou Ekatherini.
Ocupando a primeira fileira na multidão que seguia para a Praça Castro Alves, os estudantes baianos caminhavam entoando outras palavras para dizer o mesmo: "Não vai ter golpe, vai ter luta", "Aqui é Bahia" e "Na Bahia, fascista não se cria".
Segundo o presidente da União Nacional dos Estudantes (Une) no estado, Otto Costa, essa é uma ação por reforma. "O nosso país vem sendo duramente atacado nos últimos seis anos. A gente vem para a rua para ajudar a reconstruir a nossa nação e trazer de volta uma realidade positiva sobre e para o povo brasileiro", destacou o representante estudantil. Frases de ordem como "Sem anistia, cadeia para golpistas" e "O povo elegeu Lula, o povo vai deixar governar" também estamparam os cartazes.
As pernambucanas Niedja Ramos, 58 anos, Roseane Pessoa, 62 anos, e Olívia Pessoa, 58, chegaram a interromper as férias para participar do ato. "Diante desse ataque à democracia, temos que lutar", justificou Niedja. "Precisamos de liberdade, não dessa libertinagem que levou esses terroristas a quebrarem tudo", disse Roseane. "Esse é um ato de força contrária, eles estão marcando tudo que já destruíram e tentando calar a nossa boca, mas deste lado tem um pessoal forte que não pretende abrir mão da democracia que conquistamos", completou Olívia.
Pernambucanas participaram de ato pela democracia em Salvador (Foto: Ana Lucia Albuquerque/ CORREIO) |
À multidão, ainda estavam integrados movimentos sindicais, grupos partidários e organizações não governamentais. Nas ruas, onde sobrava espaço para veículos, alguns condutores gritavam em apoio ao ato. Próximo à Praça Castro Alves, alguns moradores do prédio da ocupação Carlos Marighella se juntaram aos participantes do ato e estenderam cartazes no muro do prédio ocupado com frases como "Bolsonaro Igual a fome".
Em outras partes do país, outros brasileiros também se reuniram em atos contra as invasões aos prédios dos Três Poderes. Em Salvador, o movimento foi organizado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). "Para a democracia brasileira, o movimento de hoje é um contraponto ao ataque de ontem, estamos demonstrando que não aceitamos o que aconteceu e que o povo está articulado", destacou o dirigente nacional do PT, Tita Ferreira.