noticias Seja bem vindo ao nosso site ENCONTROJA.COM.BR!

EDITORA DIGITAL

5 poemas de Jozailto Lima

Publicada em 03/09/21 às 11:20h - 2584 visualizações

Fonte: mallarmargens.com


Compartilhe
Compartilhar a noticia 5 poemas de Jozailto Lima  Compartilhar a noticia 5 poemas de Jozailto Lima  Compartilhar a noticia 5 poemas de Jozailto Lima

Link da Notícia:

5 poemas de Jozailto Lima
 (Foto: Ilustração: Nadia huggins)
 EPIFANIA 

lobos e árvores se entrelaçam
na manhã em que nasço

e chove e sinto pancadas
no telhado e rebolos nos céus.

não sei se uivos,
ganidos de arvoredos
e vendavais que ainda
hoje me enlaçam vêm dali.

mas sei que lobos e árvores
eriçam minhas retinas
e emolduram minha memória
movida a raios e trovões.



AO RÉS DA FERA

“Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde”.

Carlos Drummond de Andrade

p/ antonio brasileiro
 

do país profundo,
             de patas fortes
e abas largas,
             cheirando a âmago
e guabiroba, nada
resta. e nada restará.

avariado está
o caminho das águas,
o labor das abelhas;

e da razão dos lobos,
fez-se lenha;
                    da lenha,
brasas mortas
sobre as quais pisam pés morenos,
brasileiros, de inativo afeto.

ao rés do chão,
sem giz nem carvão

alheio
a
qualquer uivo

eis a fera que um dia
se quis profundo país.



AOS PÉS DE NINGUÉM

p/ luciano correia

a mim me bastariam
uma bicicleta pra varar
                              e poluir
o mundo de más intenções

um chapéu de teto furado
para pouso de passarinho nenhum

um ou dois dedos
de prosa com um desigual
em fala de puríssima incompreensão

um frasco topado de vazios
uma radiola digital sem braço
um disco ralado
um decodificador às avessas da prosa dos iguais

e a esperança - ó minha doce
e sacripanta esperança -
de não estar aos pés de ninguém: bicho
que se bastasse no bicho de mim mesmo.

pronto: a mim me seriam suficientes
issos, e nada mais daquilos.

O MISTERIOSO

roubava raios e trovões,
travava os ventos
e bania as cerrações.

um dia o chamaram deus
no centro de um dos
seus secretos redemoinhos.

ele se enfezou,
e dissolveu-se
na tempestade.

nunca mais voltou.

e aqui deixou sabedoria,
forças seculares, óculos,
um canivete, um isqueiro
e dois talhos num pé de muro.



OBITUÁRIO DA TRISTEZA 

do sol, o nome da rua
em que nasci

no alto

do alto alegre,
de testa pro curral de mané bengo.

luz para dissipar
qualquer travo de treva.

no mais,
era novembro
de verão, trovões e chuvarada.

uma farra de raios e relâmpagos.

e ainda marajó,
o cãozinho familiar
branco, felpudo quase-algodão
fez festa para o acontecido.

sim,
onde lugar para tristeza nesse tecido?





Jozailto Lima é jornalista e poeta e, como diria um poema do Cacaso, “não nega sua raça, faz verso por pirraça e também por precisão”. Nasceu em Várzea do Poço, Bahia, em 11.11.1960, onde viveu até os 19 anos, e está em Aracaju há 26. É autor de quatro livros - A Flor de Bronze e Outros Poemas de Mediamor, 1986, Plenespanto, 1996, Retrato Diverso, 2004, e Viagem na Argila, 2012. Os três primeiros, premiados na Bahia e em Sergipe. Sua poesia faz profunda inquirição do sentido da existência. Sai em breve Ainda os lobos, seu quinto livro, agora pela Editora Patuá.



ATENÇÃO:Os comentários postados abaixo representam a opinião do leitor e não necessariamente do nosso site. Toda responsabilidade das mensagens é do autor da postagem.

Deixe seu comentário!

Nome
Email
Comentário
0 / 500 caracteres


Insira os caracteres no campo abaixo:








Nosso Whatsapp

 (75) 98177-8000

Copyright (c) 2025 - ENCONTROJA.COM.BR - GRJC - Grupo de Comunicação Digital Jair Cezarinho
Converse conosco pelo Whatsapp!