"Não vai acontecer", diz o novo presidente do Botafogo. Ele projeta o nascimento da sociedade anônima, com dinheiro de fundos de investimento, ainda neste ano de 2021. Entende que o investimento para investidores internacionais é pequeno e pode fazer o Botafogo se tornar, outra vez, referência no futebol.
Hoje, o Botafogo enfrenta o Vasco, em São Januário, clássico entre dois clubes míticos que precisam de recuperação urgente. "Se vencermos, temos chance de não cair", pensa Durcesio. O Vasco pensa da mesma maneira.
Não se trata do clássico, nem da declaração de esperança do novo dirigente alvinegro. Trata-se de uma análise macro sobre o que está acontecendo no futebol brasileiro e sobre como serão as próximas décadas.
A grandeza dos clubes do Brasil começou em seus estados. O Internacional construiu uma torcida que cobra grandes resultados, porque cresceu acostumando-se com conquistas do Rolo Compressor. Ivo, Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abigail; Tesourinha, Rui, Russinho, Villalba e Carlito.
Está na memória do futebol brasileiro.
Se em vez do Campeonato Paulista ter iniciado a história dos torneios no Brasil, em 1902, tivesse sido um processo nacional, provavelmente clubes de fora do eixo Rio São Paulo, sem o mesmo poderio econômico, chegariam às últimas décadas do século 20 sem pressionar por troféus. O país se acostumaria a ver conquistas apenas dos dez grandes cariocas e paulistas. América e Portuguesa entre eles.
Hoje, a economia do Brasil permite pensar grande em outros estados, mais até do que no Rio de Janeiro. Há espaço para quatro gigantes cariocas?
O Botafogo não tem de responder previamente a esta pergunta. Tem de trabalhar para que ele seja um dos gigantes, mesmo que hoje pareça mais fácil que o Flamengo siga ocupando este espaço.
Nos anos 1980, os editoriais da revista Placar diziam que a torcida preferia assistir aos clássicos do que a jogos entre grandes e pequenos. A grosso modo, preferiam ver Corinthians x Botafogo a Corinthians x Araçatuba. Argumento para lutar por uma Série A forte em detrimento dos estaduais que perdiam relevância.
Argumento justo.
Acontece que hoje há o risco de transformar gigantes em Araçatubas. O Cruzeiro disputa a Série B com chances diminutas de acesso. O América não consegue se fixar na primeira divisão de seu estado. A Portuguesa comemora a chance de voltar a ter uma divisão, a Série D.
Vasco e Botafogo têm tempo para evitar histórias parecidas. Vão ter de trabalhar arduamente e o resultado tem de aparecer a médio prazo. É muito mais do que vencer o clássico da noite deste domingo. (Blog do PVC)