Já falei em outras oportunidades que na minha juventude sempre gostei de tomar decisões para organizar torneios, criar times de futebol, promover viagens de times de bairros para o interior. Sempre tive este espirito de liderança.
Na década de 80, tive a iniciativa de organizar um torneio de Futebol de Salão (atualmente o Futsal) entre os diversos orgãos de comunicação de Salvador, envolvendo rádios, jornais e televisões.
Consultei vários colegas e todos acharam que a ideia era legal. Conversei com o então presidente da ABCD (Associação Baiana dos Cronistas Desportivos), o saudoso Moacyr Neri e ele de bate pronto também aprovou a ideia.
Lembro que com o apoio de alguns colegas, conseguimos várias quadras para realizar os jogos. Utilizamos as quadras do Sesc, junto ao Viaduto Marta Vasconcelos, cedida pelo meu saudoso Manelito Lima, ex-jogador e dirigente do Vitória, o do Centro Espanhol, esta cedida pelo também saudoso Genaro Porto.
Nesta época, o tradicional Clube Espanhol, que hoje está localizado na orla marítima de Salvador, ficava situado na Avenida Sete de Setembro, na Vitória.
Lembro que para organizar a tabela, fazer a distribuição dos jogos tive o apoio de vários colegas da crônica, entre eles Osvaldo Júnior e Adilson Limongi, este repórter da Rádio Excelsior, atualmente morando no Rio de Janeiro.
Eu jogava no time da Rádio Excelsior que tinha como técnico e jogador o operador Dentinho. Faziam parte do time, além de nós dois, Cid Jorge, Ênio Carvalho, Everaldo Jorge, entre outros.
Recordo que começamos bem com uma tranquila vitória sobre a equipe da Rádio Sociedade, na sequência, empatamos com o time da Rádio Cultura.
E eu, mesmo sendo medroso (bola dividida era do adversário) conseguia dar a minha colaboração para o time da Rádio Excelsior e ainda fazia os meus golzinhos.
De repente, veio um jogo contra a equipe do Jornal A Tarde, que era considerada uma das mais fortes e, também, candidata ao titulo deste primeiro torneio de Futebol de Salão dos cronistas esportivos.
Chegamos na quadra do Sesc, o jogo estava marcado para às 20 horas, o técnico Dentinho escalou o time e me deixou de fora.
-Dentinho, por que eu fui sacado do time?
-Por nada, Mário. Você vai ficar no banco e pode entrar no decorrer da partida. Dessa vez, o time vai começar com essa escalação e você vai ficar no banco.
-Tudo bem, mas não entendi. Respondi, mas acatei a decisão do treinador.
Insatisfeito, fiquei no banco de reservas e vi o nosso time (Rádio Excelsior) fazer 1 a 0 e de repente a equipe do jornal A Tarde fez dois gols e virar a partida para 2 a 1.
Isso tudo ainda no primeiro tempo. As partidas de Futebol de Salão eram disputadas em dois tempos de 20 minutos, sendo que o cronômetro era parado quando a bola não estava rolando.
As substituições também eram ilimitadas. Os técnicos podiam mudar quantas vezes quisessem e um jogador poderia sair de campo e voltar se assim o responsável pela direção da equipe quisesse.
E começou o segundo tempo e nada de eu ser chamado para entrar em quadra. Decorridos, aproximadamente, 5 minutos, o técnico me chamou e me mandou entrar.
O nosso time estava atacando para o gol do Cine Tupy, que ficava junto à quadra do Sesc. Na primeira bola que peguei, bati de primeira. E saco. Estava decretado o empate de 1 a 1.
E a galera (até que existiam algumas pessoas na arquibancada) gritou:
-Oh seu Dentinho, o menino não pode ficar de fora. Tem de ser titular.
Ouvi o pedido de alguém lá das arquibancadas e me motivei. Fui lançado outra vez pelo lado direito da quadra, fechei para o meio e chutei . Saco. De novo. Era a virada. Confesso que não vi mais nada.
Desmaiei de emoção. Só lembro de ter acordado alguns minutos depois, com todos os companheiros do time me abraçando e me elogiando pela marcação de dois gols, num espaço inferior a 5 minutos.
E no final, aconteceu mesmo a vitória do time da Rádio Excelsior, de virada, por 3 a 2. Assumimos a liderança da competição. Mas não sei porque motivo o campeonato não chegou ao final.
Mas aquela noite na quadra do Sesc, onde fiz dois gols, depois de sair do banco numa partida de Futebol de Salão e dar a vitória ao meu time, foi uma noite inesquecível nesta minha vida de peladeiro. (Marão Freitas)