Na década de 90, Eunápolis tinha um time de futebol na primeira divisão do Campeonato Baiano. E geralmente as equipes escaladas pela Rádio Excelsior (AM 840) viajavam de avião até Porto Seguro e de lá seguiam de carro para o local do jogo, que fica distante apenas 62 quilômetros.
Outras equipes esportivas também faziam o mesmo roteiro. Numa determinada oportunidade, foi realizado um jogo do Vitória e vários radialistas viajaram para fazer a cobertura.
A noite em Porto Seguro sempre foi muito agitada, muito movimentada. Era verão e a chamada “Passarela do Álcool” estava cheia de turistas e moradores da cidade.
Lembro que nesta viagem o parceiro e amigo, o narrador Sílvio Mendes estava por lá, a fim de fazer a cobertura do jogo para a Rádio Sociedade da Bahia (AM 740).
E outros cronistas estavam presentes também na passarela, o principal ponto de atração turística da noite de Porto Seguro. Nos encontramos e nos reunimos em duas mesas.
Perto de nós estava uma jovem muito bonita, de cor negra, de aproximadamente 19 para 20 anos, chamando a atenção de quem passava pelo local. E também chamou a atenção do nosso grupo de imprensa.
Ela estava vendendo uma bebida chamada “capeta” que é muito consumida na região. É uma mistura de leite condensado, canela, álcool, frutas e outros ingredientes.
A bela mulata se chamava Jaqueline. Ela sabia vender o seu “peixe”. Tinha uma espécie de barraquinha e muita gente parava. Uns para comprar o “capeta”, outros para ver a bela vendedora.
De repente, o Sílvio Mendes foi ao encontro de Jaqueline, comprou um capeta e voltou para a nossa mesa. E toda a galera elogiava a bebida, mas, também, não deixava de elogiar a Jaqueline.
Do nada, Sílvio falou:
– Oh, Marão, você é meu eterno chefe. Você duvida que quando acabar esse movimento, eu coloco aquela bela morena para conversar com você?
– Eu não duvido de nada “Negão”.
Respondi para ele. É desta maneira carinhosa que trato um dos maiores narradores do rádio baiano e brasileiro, com o qual tive a satisfação de trabalhar na mesma equipe, por muitos anos.
Mas a maioria da turma sorriu e disse que Silvio não seria capaz de conseguir aquela façanha, porque todos que passavam pela passarela, principalmente os “gringos”, paravam para admirar a Jaqueline.
O tempo foi passando, muita gente indo para casa, a rua foi ficando vazia, Silvio se levantou e partiu em direção ao local onde estava a garota vendendo os seus produtos.
E o Silvio ficou batendo um papo animado com a menina. Demorou tanto que alguns colegas de rádio foram para o hotel. Ficamos eu, Fernandão Cabús, Renato Lavigne e mais uns dois.
Ai, o parceiro Silvio volta e diz:
– Oh, meu chefe, já fiz a cabeça da menina. Disse que você é um dos maiores empresários do Brasil, tem avião, tem lancha e tem grana. Ela disse que daqui a pouco chega aqui em nossa mesa.
– Negão, só você mesmo para aprontar uma dessas. Falei brincando.
E não é que em aproximadamente 15 minutos, a bela Jaqueline chegou, sentou-se em nossa mesa e ficou batendo um papo animado e bebendo uma cervejinha com a gente.
– Eu sou fera, meu chefe. Falou o Silvio que na oportunidade também gostava de tomar uma “geladinha”.
O fato é que a bela Jaqueline ficou em nossa mesa conversando, bebendo até irmos embora para o hotel. E marcamos para jantar no dia seguinte (um domingo), pois à tarde estaríamos em Eunápolis para fazer o jogo.
E logo procurei desfazer a imagem do “falso milionário” criada em tom de brincadeira pelo Silvio. Alguns companheiros tiveram de voltar para Salvador no próprio domingo, à noite, e eu só voltaria na segunda-feira, à tarde, junto com o Renato Lavigne.
Acertamos tudo e fomos jantar com a Jaqueline. Nunca esqueci de um detalhe: na hora que chegamos na casa dela para irmos ao restaurante, ela estava com uma taça de suco que derramou em seu vestido. Lembro que ela estava usando branco e teve de trocar de roupa.
Fomos eu, ela e o Lavigne para o restaurante. Foi uma noite de um bate papo muito legal. A Jaqueline falou como ela era assediada pelos turistas, principalmente pelos gringos, mas ela não estava nem aí. Queria era vender os produtos dela.
Fizemos uma boa amizade, voltamos a nos encontrar em Porto Seguro, porém depois de alguns anos procuramos saber da Jaqueline e uma colega dela, que também trabalhava na “Passarela do Álcool”, nos informou que ela tinha conhecido um alemão, se apaixonou e estava morando fora do Brasil.
E depois disso nunca mais soube da bela Jaqueline, uma grande amizade que fiz em Porto Seguro, graças a uma brincadeira do meu parceiro e amigo Silvio Mendes da Paixão, o “Negão” para os íntimos. (Marão Freitas/Em Cima do Lance)