Na década de 70, eu trabalhava na Rádio Excelsior da Bahia (AM 840) e no Jornal da Bahia. O chefe da equipe esportiva, em 1973, era Nilton Nogueira, que tinha acabado de assumir o cargo ocupado, até então, por Fernando Jose, que foi contratado por José Ataíde para trabalhar na Rádio Cultura (AM 1140).
Na época existiam duas resenhas de grande audiência. A nossa, que ia das 12 às 13 e 30, e a da Rádio Sociedade, que era comandada por França Teixeira, um dos maiores nomes do rádio em todos os tempos, e era das 12 às 14 horas.
Num determinado dia, terminei o meu trabalho na Rádio Excelsior e pretendia ir almoçar em casa, e depois seguir para a redação do Jornal da Bahia. Este ficava na Barroquinha, e eu morava no bairro de Nazaré.
Quando entrei no carro, liguei o rádio para ouvir o final da resenha da Rádio Sociedade. Para minha surpresa, França como sempre em grande estilo, anunciou:
– E agora, eu tenho uma bomba que será detonada pelo torcedor do Vitória, Alvinho Barriga Mole (está vivo até hoje). Fala Alvinho.
– Oh França, Mário Freitas, da Rádio Excelsior, disse que o Vitória só vai ser grande no dia que o “câncer” do clube morrer.
– E ele se referia a quem, Alvinho?
– Ao Dr. Luiz Catharino Gordilho.
– Aí está, meus amigos, a grande bomba do dia, para fechar o nosso programa de hoje. Falou o França.
Gente, eu fiquei louco. Primeiro porque tinha um excelente relacionamento com o Dr. Luiz Catharino Gordilho e os seus filhos, e nunca disse aquilo. E nunca fui de me referir a quem quer seja, comparando com esta doença.
Mudei o meu roteiro, e ao invés de ir para casa, fui para a sede da Rádio Sociedade, que já era onde é até hoje, no bairro da Federação. Lembro que quando cheguei por lá, ainda encontrei Alvinho, Osvaldo Júnior (o saudoso repórter “Cebola”) e o próprio França.
– França, o que é isso meu irmão? Alvinho, que calúnia! Quem lhe disse isso meu irmão? Nunca me referi ao Dr. Luiz Catharino dessa forma. Nunca tratei desse assunto com ninguém.
– Foi o repórter Adilson Limongi (está vivo e mora no Rio de Janeiro) quem me disse.
– Ele é um mentiroso, e você faz uma acusação dessa, rapaz!
– Caso você queira, volte aqui amanhã para desmentir. Falou França.
Saí de lá revoltado com o fato e, na época, eu também prestava um serviço na Secretaria de Comunicação do Governo Roberto Santos, no departamento de rádio, com o meu grande amigo, Manoel Canário, um dos maiores noticiaristas do rádio brasileiro. (Este está vivão e mora no Barbalho).
Já deixei de lado o almoço. Peguei o telefone e liguei, inicialmente, para o “Linha” Catharino, o filho mais velho do Dr. Luiz. Até hoje, mantenho contato com o “Linha”, que, por sinal, jogava muita bola.
– “Linha”, meu amigo….
– Mário Freitas, fique tranquilo. Já sabemos de tudo e sei que você jamais falaria isso do meu pai. Não precisa nem você justificar.
– Oh, “Linha”, obrigado, irmão.
Em seguida, liguei para o Eduardo Catharino, um dos irmãos do “Linha”, que chegou até a exercer um cargo na diretoria de futebol do Vitória. E Paulo teve a mesma atitude:
– Mário, fique tranquilo. Nós conhecemos o seu caráter e o seu comportamento na imprensa.
Agradeci e depois liguei para o Dr. Luiz Catharino.
– Mário, conhecemos a sua maneira de trabalhar. Sabemos que você é uma pessoa incapaz de falar aquilo sobre mim, ou outra pessoa. Quero que você vá lá no meu escritório. Faço questão de lhe dar uma entrevista.
Combinado e feito. No dia seguinte, fui na Avenida Estados Unidos (até hoje, a família mantém o escritório por lá) e o Dr. Luiz Catharino me deu uma entrevista “bombástica”, falando que conhecia a história de todos os radialistas da Bahia e que outros poderiam ter dito aquilo, mas eu jamais.
Reproduzi a entrevista na resenha da Rádio Excelsior e a audiência foi grande. Fiquei muito chateado com o Alvinho e com o Limongi, mas a demonstração de carinho da família Catharino (aliás até hoje) acabou transformando aquele triste episódio num fato marcante na minha carreira.
Não sou de guardar mágoas nem rancor, por isso, perdoei o meu ex-colega Adilson Limongi (chegamos a trabalhar juntos na própria Rádio Excelsior) e o torcedor Alvinho Barriga Mole, com quem sempre mantive um bom relacionamento.
O dia em que uma calúnia comprovou a minha credibilidade no rádio (e não era preciso), especialmente, com a família Martins Catharino Gordilho, foi mais uma das histórias marcantes que aconteceram comigo, nesta minha longa carreira no fantástico mundo da bola. (Em Cima do Lance / Marão Freitas)