A minha primeira viagem para fora do Brasil foi no ano de 1976, quando, ao lado de Nilton Nogueira e Edson Almeida, fui cobrir o Torneio Bi-centenário dos Estados Unidos. A Seleção Brasileira se sagrou campeã e na final aplicou uma goleada de 4 a 1, na Itália, na cidade de New Haven, perto de Nova York.
Lembro que eu e o Nogueira fomos na frente e pegamos um Boeing 707 da Varig do Rio para Los Angeles. Depois de 5 horas de voo, paramos em Lima (Peru) para uma escala técnica. Na sequência, mais 8 horas e chegamos em Los Angeles.
Imaginem a minha emoção, e porque não dizer do próprio Nilton Nogueira, que também nunca tinha ido aos Estados Unidos. Quando o avião pousou era difícil imaginar o que eu sentia.
Além de trabalhar como repórter nas jornadas esportivas e resenhas da Rádio Excelsior, estava fazendo a cobertura também para o extinto Jornal da Bahia. Na época, nem se falava em telefonia celular.
Para a Radio Excelsior fazíamos tudo por telefone, e para o jornal, eu tinha de utilizar o telex. Os mais novos não sabem, mas era um dos meios de comunicação importantes da época. A gente digitava e o material chegava na mesma hora aqui na redação.
Mas, embora a viagem tivesse sido para trabalhar (e como trabalhamos) aproveitamos para também conhecer um pouco das cidades americanas. Aliás, foi nesta viagem que conheci o meu amigo Sérgio Tonielo. Ele estava por lá cobrindo a competição para o jornal Zero Hora de Porto Alegre.
Depois ele veio para a Bahia, trabalhou em Feira de Santana e mais tarde fixou residência em Salvador, tendo trabalhado em diversos jornais, no Banco Econômico e se firmou como comentarista de rádio.
Eu e o Nogueira estávamos fazendo as transmissões para a Rádio Excelsior, num pool (cadeia de rádios) com a Rádio Clube de Pernambuco. O narrador era o saudoso Ivan Lima e o comentarista o também saudoso José Santana.
Numa daquelas noites de folga em Los Angeles, eu, Nogueira e José Santana decidimos sair para assistir um show de strep tease, que no Brasil era muito raro. Só existiam espetáculos iguais no Rio e em São Paulo.
Pegamos um táxi e lá fomos nós. Naquele ano, nenhum dos três falava Inglês. De todos eu era o “menos” pior. Entendíamos muito pouco e com gestos conseguiamos nos virar.
Chegamos na casa noturna, pagamos para entrar e assistimos o show. Terminado o espetáculo, o Santana se interessou em ficar com uma das meninas, que eram patrocinadas pela casa noturna, e ficavam sentadas nas mesas espalhadas pelo salão.
Ele perguntou a mim e ao Nogueira se estávamos a fim. Na hora respondemos que não. E o pernambucano encarou. Partiu para se entender com a menina e esta falou:
– One hundred dólares. First, money em my hand.
Traduzindo: cem dólares e o brasileiro tinha de pagar adiantado, colocando o dinheiro na mão dela, antes de os dois se dirigirem a um local determinado para este tipo de encontro. E lá se foram os dois.
Pouco tempo depois, o Zé voltou e disse ter se arrependido e que na realidade tinha perdido cem dólares. De repente, o local foi ficando vazio e um grupo de cinco homens começou a conversar um com o outro.
Nós três ficamos com medo do que poderia sair daquela conversa. Procuramos nos acalmar e na realidade, pagamos o nosso consumo (pequeno por sinal) e não aconteceu nada demais. Não passou de um susto. Fomos para a esquina pegar um táxi e voltar para o hotel.
Lembro que desci um pouco do passeio, fui para a rua e de repente, veio um carro da Polícia. Dois oficiais ligaram a sirene e me deram a maior bronca. Com o meu Inglês de índio, na época, tentava explicar que éramos brasileiros e que estávamos esperando um táxi, para voltar ao hotel.
Foi difícil a gente entender o que eles falavam, mas chegamos à conclusão que, mesmo de madrugada, não podíamos ficar na rua. Tínhamos de ficar no passeio. E que eu tinha de pagar uma multa, por ter cometido uma infração.
Pedir desculpas em Inglês, eu sabia. Pedi perdão, várias vezes, tentei explicar que eu era jornalista e radialista e os três não sabiam desta determinação de não poder ficar no meio da rua. No final, entre gestos e mímicas, consegui escapar da multa, pegamos um táxi e voltamos para o hotel. Ufa, que alívio!
A noite em que fui ver um show de strep tease, em Los Angeles nos Estados Unidos, levei um susto numa boite e quase pago uma multa por andar no meio da rua, numa madrugada americana, foi mais uma das histórias que aconteceram comigo neste fantástico mundo da bola. (Em Cima do Lance)