“Você sabe o que é que um deputado faz? Vote em mim que depois te conto”.
Esse aí foi o bordão que o palhaço (de verdade) Francisco Everardo Tiririca Oliveira, o Tiririca, usou em 2010 quando apresentou-se como candidato a deputado federal por São Paulo.
Bombou. Nas urnas, fenômeno, 1 milhão e 350 mil votos. Ele não cumpriu a palavra, não contou o que um deputado faz, mas voltou em 2014. Caiu um pouco, mas de novo goleou: 1 milhão e 134 mil votos. Em 2018 de novo voltou, mas a votação caiu bem para 445.521, ainda boa, mas minguada.
É a partir daí que o palhaço vira polêmica. Lembra aquela música de Roberto Carlos, O portão? Ela diz: “Eu voltei, voltei para ficar/Porque aqui, qui é o meu lugar”. Tiririca alterou a letra e jogou: “Eu votei, de novo vou votar/Tiririca Brasília é seu lugar”.
Segundo tempo - E m 2018 a produtora de Roberto Carlos entrou na justiça e incrivelmente Tiririca se saiu bem. A decisão considerou que a peça era uma paródia. E abriu a discussão no meio artístico: está certo isso?
Tiririca se empolgou, na campanha deste ano, quando tenta o quarto mandato, de novo usou a estratégia, mas agora foi o próprio Roberto Carlos quem entrou na Justiça acusando o palhaço de estar usando a sua música como jingle. E é paródia ou usurpação de direitos?
Fala o advogado baiano Rodrigo Moraes que é um dos dirigentes da Associação Brasileira de Direito Autoral (ABDA).
— Ora, paródia é uma versão humorística, sarcástica, burlesca usada por artistas em apresentações artísticas. Aí no caso é uma versão desautorizada para uso eleitoral. O pior é que o autor diverge da ideologia de quem surrupia.
Outros casos — Tiririca é do PL, o partido de Bolsonaro. Lembra Rodrigo que Luana Carvalho, filha da cantora Beth Carvalho, também está processando Fabio Faria, ministro das Comunicações, pelo uso não autorizado de “Vou festejar”.
Outra. A deputada Bia Kiss, do Distrito Federal, também entrou nessa. O número de urna dela é 2222 e ela simplesmente surrupiou Expresso 2222 de Gilberto Gil.
Que ironia, todos os acusados são bolsonaristas, que tanto dizem detestar ladrões.
Elsimar terá memorial com bagagem de museu
Falecido em 17 de agosto de 2020, vítima da Covid, 94 dias depois de completar 90 anos, o professor Elsimar Coutinho, que se tornou um dos mais renomados cientistas baianos na área de reprodução humana, vai ganhar um ponto de referência para celebrar seus bons feitos.
O Grupo Empresarial Elsimar Coutinho procura uma casa em bairro nobre (ainda não definido), para agregar nela livros de autoria dele, material audiovisual sobre a contribuição científica, além de depoimentos de pacientes que fizeram planejamento familiar, familiares, amigos e parceiros.
Ainda não há data definida para a inauguração, mas segundo os organizadores, será em grande estilo, à altura da importância internacional que o professor conquistou.
Sem perdão
Na maior parte dos seus 99 anos e dois meses de vida, entre 1885 e 1974, o fazendeiro Francisco Heráclio do Rêgo, o Coronel Chico Heráclio, deu as cartas em Limoeiro, sertão de Pernambuco, não tão longe de Recife (80 km).
Conta Sebastião Nery que, após imperar durante oito anos como governador de Pernambuco (1937 e 1945), Agamenon Magalhães voltou ao governo, no voto, em 1950. Na campanha bateu na porta do Coronel Chico Heráclio e teve apoio.
— Coronel, qualquer coisa lá, é só mandar.
— Fique tranquilo. Coisa pouca eu resolvo por aqui mesmo. Só vou lhe incomodar se for coisa difícil.
Meses depois pediu a aposentadoria de um juiz que só tinha quatro anos de nomeado, Agamenon chiou:
— Coronel, isso não é nem difícil. É impossível.
— Mas eu lhe disse, coisa fácil eu resolvo por lá.
Não procurou mais Agamenon. Um dia, na varanda da casa, o auxiliar gritou da porteira:
— Coronel, carta do governador!
— O papel é bom?!
— É!
— Pendure na latrina!