Na primeira semana em que os presidenciáveis de 2022 usaram as mídias tradicionais, o modelo de governança subiu ao topo. Juntando o que disseram Ciro Gomes, Lula e Simone Tebet, o presidente fica refém do Congresso Nacional e sempre acaba mal.
O xís da questão é a relação entre o Executivo e o Legislativo, o império do toma lá dá cá, no qual, na prática, joga-se no lixo o discurso da defesa do interesse público para fazer prevalecer os deles, o que forma, nas palavras de Ciro Gomes, ‘um bando de picaretas’.
Já que assim o é, veja o que aconteceu depois da redemocratização. Fernando Collor sofreu o impeachment, Fernando Henrique acabou com a moral no chão, Lula acabou preso, Dilma também sofreu impeachment e Michel Temer se abriu todo para não cair.
Bolsonaro — Bolsonaro, que passou 4 anos como deputado federal, conhece bem a questão. 20 anos atrás, muito ao seu estilo, ou vocação para ditador, defendeu o fechamento do Congresso, não teve plateia e agora também se deu mal.
Ele começou o mandato amaldiçoando o toma lá dá cá. Não sabe que esse princípio é do jogo e também tem hierarquia moral, tipo toma lá os seus votos, dá cá um hospital, uma escola ou coisa assim e que ele se degenera de vez é quando o dá cá é para o bolso, o que mais acontece. Resultado: fez o toma lá como nunca se viu, mais de R$ 20 bilhões, na forma de orçamento secreto. Pode?
O modelo brasileiro é o chamado presidencialismo de coalizão. Sabe o que é? O termo foi criado no fim dos anos 90 pelo cientista político e jornalista Sérgio Abranches, marido da também jornalista Miriam Leitão e é o que explica.
Nele, o governante partilha o governo com cargos e benesses. Tem também o semi-presidencialismo, em que o presidente divide o poder com o primeiro-ministro e o parlamentarismo. Por enquanto, ficamos nessa, esperando o dá cá do bem.
Criar partido, um grande negócio para os ‘donos’
Na entrevista a Globo esta semana, Lula disse que a política brasileira sofre com a tempestade de partidos,.
— No Brasil só temos três partidos, o PT, o PSB e o PSOL. Os demais são cartoriais.
Até 2018, quem abria um partido, sem ter tido um só voto, já levava R$ 1 milhão por ano. Chegamos a 32, até que veio cláusula de barreira impondo limites. Ainda temos 32, mas só 14 recebem dinheiro oficial. Assim o é que Roberto Jefferson, o dono do PTB, condenado a mais de 7 anos de cadeia, agora é candidato a presidente. E Bolsonaro, que nunca teve partido, se agregou no PL, cujo dono, Valdemar Costa Neto, também já foi condenado a mais de sete anos de cadeia.
A maldição do cocá
Os índios também têm o seu folclore político e entre eles dizem que candidato ou presidente que promete e não cumpre, se botar o cocar na cabeça, se estrepa numa maré de azares. A coisa vem de longe. Lá atrás, Juarez Távora usou e perdeu a eleição para Getúlio Vargas. Mais recente, Tancredo Neves, que achou de estampar o cocar, ganhou a eleição e morreu antes da posse.
Dizem que José Sarney, o vice que assumiu, sabia disso e fugia do cocar como o diabo da cruz. Mas Fernando Collor botou e foi cassado; em 1994, Lula botou e perdeu, depois presidente usou, veio o mensalão e a Lava Jato; D. Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, usou, caiu e quebrou o braço; Dilma também entrou no cocar e caiu, Michel Temer usou e passou o governo atribulado com o escândalo da JBS e agora, ano passado em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Bolsonaro usou e não tem paz.
Certo dia perguntaram sobre isso a Nailton Pataxó, lá de Pau Brasil. E ele:
— Essa é boa. Eles fazem as merdas dele por lá e depois botam a culpa no cocar.