Faleceu na madrugada de ontem, aos 92 anos, o jornalista e escritor Sebastião Nery, ex-deputado estadual cassado pela ditadura militar em 1964 e um dos mais notáveis cronistas políticos do Brasil.

Com atuação política na Bahia e no Rio de Janeiro, Nery trabalhou como repórter e colunista em diversos dos principais jornais do país. Autor de mais de dez livros, ele assinou a coluna Contraponto na Folha de S. Paulo de 1975 a 1983.

Após enfrentar problemas de saúde nos últimos quatro meses, Sebastião Nery morreu de causas naturais. A cerimônia de cremação ocorre hoje, das 8h às 10h, no Cerimonial do Carmo, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro.

Sebastião Nery foi um jornalista, escritor e político brasileiro (deputado federal pelo Rio de Janeiro, deputado estadual pela Bahia e vereador em Belo Horizonte), autor da obra "Folclore Político", com 1950 histórias bem humoradas envolvendo políticos brasileiros.

Sebastião Augusto de Sousa Nery nasceu na cidade baiana de Jaguaquara, no dia 8 de março de 1932, filho de Lindolpho de Andrade Nery e Elvira Souza Nery.

Casado com Guaraciaba do Carmo Nery, teve dois filhos (Jacques Nery, produtor de vídeo e Sebastião Nery Júnior, jornalista e professor de história). Do relacionamento com Ana Eliza de Figueiredo teve uma filha (Ana Rita de Figueiredo Nery, juíza).

Ele trabalhou em diversos veículos de comunicação e se destacou por suas reportagens e análises sobre a realidade brasileira. O jornalista também foi comentarista da Rádio Metropole durante muitos anos. 

De 1942 a 1950 estudou no Seminário de Amargosa, Bahia, e no Seminário Central da Bahia, em Salvador. Transferindo-se para Belo Horizonte, colou grau em filosofia na Universidade de Minas Gerais, em 1954, iniciando o curso de ciências jurídicas e sociais que só concluiria em 1958, na Faculdade de Direito da Bahia.

Carreira jornalística e política

Repórter de o "O Diário", matutino ligado à Arquidiocese de Belo Horizonte, no pleito de outubro de 1954 disputou uma cadeira na Câmara Municipal de Belo Horizonte na legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Eleito e diplomado, não chegou a assumir a cadeira: sua candidatura foi impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais sob a alegação de que as campanhas haviam sido feitas em nome do Partido Comunista Brasileiro (PCB), então na clandestinidade.

O mesmo sucedeu a Orlando Bonfim Júnior, candidato a deputado federal, e a Élcio Costa, candidato ao Legislativo estadual. Em 1956 trabalhou para o semanário Jornal do Povo, publicação vinculada ao PCB.

Viajou a Moscou em 1957 e, de volta ao Brasil, após breve passagem por Minas, radicou-se novamente em Salvador. Contratado pelo Jornal da Bahia, em 1958, e no ano seguinte pelo jornal A Tarde, fundou o semanário Jornal da Semana (1959).

Em outubro de 1962, concorrendo na legenda do Movimento Trabalhista Renovador (MTR), em coligação com o PSB, elegeu-se deputado estadual, sendo empossado em fevereiro de 1963.

Com a vitória do movimento político-militar de 31 de março de 1964 foi preso e recolhido a um quartel do Exército. Cassado pela Assembleia Legislativa no dia 28 de abril, recuperou a liberdade em agosto, conseguindo reaver sua cadeira quatro meses depois por determinação do Tribunal de Justiça do estado, uma vez que os deputados não tinham prerrogativa para tomar tal decisão, privilégio do presidente da República.