Desde criança, Louro, um garoto jequieense, se encantava com a poesia contida nos melancólicos e queixosos solfejos do sanfoneiro do Norte, Luiz Gonzaga do Nascimento. Era um protesto embutido numa beleza indiscutível! Era como sorrir e chorar...
O garoto se aculturou, formou-se em medicina e hoje é um cirurgião renomado em sua área de atuação.
Já o velho Lua não está mais conosco desde o dia 2 de agosto de 1989, depois de longo internamento no Hospital Santa Joana, em Recife-PE.
Segundo Dominique Dreyfus, sua biógrafa, em seus últimos dias de dor intensa, Luiz Gonzaga evitava gemer para não incomodar os outros pacientes da mesma ala, no hospital. Então, na aproximação das dores lancinantes, ele entoava, alto e bom som, o aboio sertanejo, transformando o seu sofrimento em inesquecível ritual utilizado pelos vaqueiros no trato com o gado. Era um grito longo e sofrido, para atenuar as dores do câncer feroz que lhe corroía as entranhas.
Só os puros de espírito utilizam um recurso tão belo, altruísta e digno.
A escritora Dominique Dreyfus nasceu na cidade de Paris e aos dois anos mudou-se com a sua família para o sítio de seus avós paternos, em Garanhuns-PE. Ali, em 1948, ainda em tenra idade, ela se referia ao Rei do Baião como o que cantava no rádio “a la fois joyuese et melancolique”.
Enquanto isso, em Jequié e Jaguaquara, o garoto agora médico, Doutor Lourival Eça Gomes, mesmo abraçando a ciência, não desviou os seus olhares da bela história de um dos maiores poetas musicais do Brasil, colecionando seus discos, enriquecendo com informações a sua história deleitando-se com a beleza contida na paisagem e na cultura sertaneja, vislumbradas e cantada pelo sanfoneiro que virou Rei.
O Doutor Lourival Eça, sem descuidar da excelência da sua profissão, é reconhecido como um dos mais legítimos intérpretes das músicas que serviram de trilha musical de várias gerações, com representantes em todos os rincões brasileiros.
Portanto, eu lhe convido a vir conosco, ouvir estas e outras histórias, contadas e cantadas por Lourival, no programa “Além da Notícia”, com a participação especial do som extraído pelas mãos privilegiadas do talentoso sanfoneiro Gilson Prates.