Trabalhei por muitos anos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), inclusive na primeira do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), com o Major Domingues, do Exército. Quando a UTI foi inaugurada, apenas nós dois éramos plantonistas. Metade do tempo com remuneração e outra metade sem. Parte dos dias, ela funcionava como uma semi-intensiva e dividíamos a prescrição dos pacientes, até que conseguimos uma equipe completa, pois eram raros os profissionais, naquela época.
Com o tempo, a UTI do Clériston cresceu, mas a demanda era maior do que a disponibilidade. E muitas, muitas, muitas vezes tive que escolher, na escassez daqueles tempos, entre 2 a 3 solicitações, quem iria ocupar a vaga disponível. Era dilacerante ser senhor da vida ou morte. É algo de onde não saímos bem. Ainda trabalhei em unidades privadas, por alguns anos. Depois, deixei as UTIs. Era exaustivo demais. Hoje, as UTIs estão em outro patamar.
Digo isso porque nada do que vivi chega perto do que as equipes de saúde de Manaus devem estar passando. Arrebentadas, dilaceradas, destruídas, oscilando entre a raiva e a impotência, com a frustração de ver um paciente após o outro ter seu oxigênio reduzido; de ver a saturação cair; de ver a hipóxia ir se instalando; de ver a luta insana e desesperada para respirar. E morrerem.
Ninguém de fora consegue imaginar a exata dimensão do impacto que isso tem. Não se segue adiante sem carregar sequelas. Eu não gostaria de estar na pele deles, porque acho que teria um surto de insanidade.
Que Deus, sob qualquer de suas formas, os proteja!