Candidato à vereador em Feira de Santana, Fernando Torres é destaque em reportagem da Revista Veja; Político mantém R$ 3 milhões em espécie
Com o título ‘Os candidatos que guardam mais de R$ 1 milhão em dinheiro vivo em casa’, a reportagem relata que a eleição de 2020 é mais um exemplo de como a política do dinheiro vivo está mais intensa do que nunca. Levantamento realizado pela Revista VEJA, com base nas declarações de bens, identificou 42 postulantes à prefeito, vice ou vereador que declararam mais de R$ 1 milhão em espécie. Cerca de 3 000 candidatos, na eleição como um todo, disseram ter, ao menos, R$ 100 mil em mãos.
Dentre os políticos que foram destacados na reportagem está Fernando Torres, ex-deputado federal e atual candidato à vereador pelo PSD de Feira de Santana.
“Não ia fazer algo errado e colocar na declaração. Se está lá, é porque é 100% correto”, afirma o empresário Fernando Dantas Torres, que declarou ter cerca de R$ 3 milhões em espécie, cuja fortuna seria oriunda da venda de um imóvel.
A reportagem informa que o dinheiro não cabe dentro da calça e o comportamento curioso (e para lá de suspeito) segue na contramão dos hábitos da população, de guardar os recursos financeiros em instituições bancárias que assegurem rendimento.
Na teoria, o fato de os candidatos declararem os valores parece ser uma confissão absoluta de lisura. A inclusão de bens na declaração, no entanto, não chega a ser uma garantia de lisura porque, na prática, a relação apresentada não é alvo de nenhum procedimento de investigação por parte da Justiça Eleitoral. Além disso, os candidatos podem alterar, a qualquer momento, a informação que prestaram.
Isso, porém, deveria ser levado mais a sério porque a prática é uma forma clássica de realizar negócios longe de órgãos de fiscalização, como o Coaf, sonegar impostos, ocultar pagamentos ou viabilizar o tradicionalíssimo caixa dois.
“Não é ilegal, mas dinheiro em espécie é um instrumento que pode ser usado para financiamento ilegal de campanha, especialmente após o veto à doação por empresas. O que conta saber é o seguinte: esse dinheiro declarado em espécie tem origem?”, afirma Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal.
O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e do BNDES, reforça a impressão de suspeita: “As pessoas não querem mostrar que têm dinheiro, então fazem tudo via moeda, para que não se saiba quem são e quanto gastam”.
Casos pregressos
O Brasil tem uma crônica longa e variada de escândalos relacionados ao tema. Em abril de 2017, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (MDB), assessor do presidente Michel Temer, foi visto correndo com uma mala com R$ 500 mil reais entregues pela JBS.
Recordista no gênero, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) acabou preso por causa de R$ 51 milhões desvelados na Operação Tesouro Perdido, deflagrada pela Polícia Federal, em 05 de setembro de 2017. O recurso financeiro estava acondiçoando em caixas e malas em um apartamento em Salvador.
Na investigação do caso das rachadinhas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) identificou R$ 2,7 milhões em transações em espécie.
Segundo os promotores, parte do recurso financeiros foi usada para comprar imóveis e pagar despesas pessoais do hoje senador, filho do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Recentemente, o próprio presidente fez uma doação de R$ 10 mil em espécie ao seu filho Carlos Bolsonaro para a campanha a vereador do Rio de janeiro e foi obrigado a refazê-la, por meios eletrônicos, ao ser alertado de que havia extrapolado o limite legal, de R$ 1.064.
Na brasileiríssima política do dinheiro vivo, como se vê, o exemplo atualmente vem de cima, conclui a reportagem. (Revista Veja)
Declaração de bens de Fernando Torres à Justiça Eleitoral para as Eleições 2020